Ilustração de Mauricio Negro (detalhe) |
Conta o povo que existiu um vaqueiro que não deixava passar nada: tudo que via ou ouvia ele tinha que passar adiante. Ficou com má fama por causa disto. Um dia, viu uma coisa que era melhor não ter visto ou ter ficado quieto. Quando ele tocava o gado do patrão, avistou uma caveira, fincada num pau. Nisso a caveira falou:
— O que mata o corpo é a língua.
O vaqueiro correu, apavorado, para contar ao patrão o que tinha visto e ouvido. O fazendeiro resolveu acompanhar o vaqueiro até onde estava a caveira para saber o que ela havia dito. Não houve resposta, perguntou de novo e nada. Pensando que havia sido enganado, o fazendeiro, cego de raiva, matou o vaqueiro. Depois disto ouviu a caveira falar:
— Eu não disse que quem mata o corpo é a língua?!
Nota: Conto maravilhoso de origem africana. Não é classificável dentro dos catálogos conhecidos. No entanto existem várias versões do mesmo nas colectâneas dos países africanos de língua oficial portuguesa (e uma no Brasil – Alcoforado 2001, nº 96), o que mostra tratar-se com toda a certeza de um conto-tipo. O índice de motivos de Stith Thompson indica o seu motivo central – a caveira que se recusa a falar – como B210.2.
(Paulo Correia)
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