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Morgan Le Fay, de Frederick Sandys (1829-1904) |
Num lugar retirado vivia um casal
que teve sete filhas. O casal vizinho também teve sete filhas. Por causa disso,
as duas filhas mais novas de cada casal eram encantadas: viravam bruxas. A sina
as uniu de tal forma, que faziam tudo juntas, como se fossem irmãs. Quando se
puseram mocinhas, iam sempre à cidade fazer algumas malinezas, mas sem maiores
prejuízos para as pessoas.
Quando os pais se recolheram, à
noite, elas se transformaram em borboletas e foram até a cidade, pois estavam
com vontade de beber vinho. Deram com uma venda e, pela fechadura, puderam
entrar nela. Lá dentro, voltaram a ser mulheres, e a mais bela das duas abriu
uma gaveta cheia de dinheiro. Admirada, falou:
— Nunca vi tanto dinheiro!
Ela não deveria ter dito nada, pois,
se a bruxa conversa, perde o encanto.
A companheira, assustada, virou
novamente uma borboleta e foi embora. A outra ficou lá, encolhidinha, atrás da
porta, chorando. Assim que o dia limpou, o rapaz, dono da venda, foi trabalhar
e qual não foi sua surpresa quando deu de cara com aquela moça linda,
completamente nua, acocorada atrás da porta.
— Ué! Como você entrou aqui? — ele
perguntou.
Ela contou a verdade, mas ele não
lhe deu muita crença. Resolveu ir até a casa dele, que ficava perto, e contou
tudo à mãe, que foi levar uma peça de roupa para a moça. O rapaz só entrou
quando ela estava vestida. A mãe dele perguntou onde ela morava.
— É longe demais. Para uma borboleta
encantada é perto, mas para uma pessoa é muito longe.
E foi para a casa do rapaz, que, depois, a pediu em casamento. Ela aceitou e passou a viver naquela casa.
Nota: Contada pela saudosa Maria Rosa Fróes, de Brumado, Bahia, e publicada no livro Contos e lendas da Terra do Sol, escrito em parceria com Wilson Marques (Paulus, 2019). O tema da noiva sobrenatural está presente em A bruxa. Contrariando o senso comum, que a retrata como uma velha feia que faz feitiços e causa grandes desastres, a bruxa da nossa história é uma jovem bela que se metamorfoseia em borboleta. Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima, no livro Lobisomem: assombração e realidade, reproduz uma história muito semelhante à nossa, sem o casamento mágico.
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