terça-feira, 16 de julho de 2024

A cabeça do defunto


Xilogravura de Lucélia Borges


Um homem apostou que tinha coragem de ir ao cemitério por volta da meia-noite. Mas outro homem, provocador que só, afirmou que ele não tinha coragem para tal. E pôs um bolo de dinheiro sobre a mesa, provocando:

— Se você, além de ir ao cemitério, me trouxer uma carcaça da cabeça de um defunto, leva todo esse dinheiro.

Outro homem, que passava em frente à casa, os viu apostando e correu para o cemitério. Lá, se escondeu atrás de uma carneira.

O apostador chegou e começou a cavar uma sepultura. Quando deu no caixão, que foi abri-lo, ouviu uma voz:

— Essa cabeça, não! Essa cabeça é do meu avô!

Cavacou outra cova e, depois de muito trabalho, ouviu:

— Essa daí não! Essa é do meu pai!

Quando cavacou noutro local, já chegando aos ossos da cabeça, ouviu a voz, agora mais apavorante ainda:

— Agora essa daí é pior! Essa é a minha cabeça!

O homem já estava pelas tantas e respondeu:

— Seja sua ou de quem for, mas que eu levo, eu levo!

Arrancou a caveira e seguiu com ela para a casa do amigo. O sujeito que estava escondido, com um vestuário que parecia uma mortalha, saiu a correr atrás dele, gritando:

— Devolve minha cabeça! Devolve minha cabeça!

O homem chegou ao local, apavorado, e jogou a cabeça no colo daquele com o qual apostara.

— A cabeça está aqui, mas o corpo vem logo atrás!

Quando eles olharam, que viram o que imaginavam ser um fantasma, saíram correndo, deixando todo o dinheiro para trás. O falso fantasma chegou ao local, embolsou o dinheiro e foi-se embora, feliz da vida.

Narrado por José Alexandrino de Souza

Serra do Ramalho, Bahia.

Fonte: Contos Encantados do Brasil (Aletria, 2022).

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