sábado, 15 de outubro de 2016

O Príncipe Pássaro (The Prince as a Bird)

The Blue Parrot (O Papagaio Azul) por H. J. Ford para O Livro Oliva dos Contos de Fadas, de Andrew Lang.

Esse conto-tipo (ATU 432), que se vincula ao ATU 425B (A Bela e a Fera), começa, algumas vezes, com um pedido incomum da filha caçula ao pai (mercador ou viajante). Este procura exaustivamente e, depois de muito esforço, adquire um pássaro, desconhecido de todos, que ficará no quarto da donzela. Noutra versão, o presente é apenas o meio de se conseguir contato com o pássaro misterioso, na verdade, um príncipe vítima de um encanto. O idílio é interrompido pela trapaça das irmãs invejosas (pode também ser a madrasta, uma vizinha, ou, caso raro, o marido), que, sabendo que o pássaro sempre passa pela janela, escondem navalhas afiadas, que ferirão o pássaro, deixando-o à beira da morte. Em seguida, ele desaparece, não sem dizer o nome de seu estranho reino. A donzela empreenderá uma demanda que a levará ao reino do príncipe, desconhecido da grande maioria. Passará, em algumas versões, pelas casas do Sol, da Lua e do Vento, recebendo deste a localização exata do reino misterioso. Sabedora do segredo da cura, devolve ao príncipe a sanidade e casa-se com ele.

A versão mais antiga deste conto-tipo parece ser um lai de Maria da França, datado do século XII. No final do século XVII, Madame d'Aulnoy, em sua famosa coletânea de contos de fadas, incluiu O Pássaro Azul, que parece derivar do texto medieval. Giambattista Basile, no conto Verdeprato, do Pentamerone, traz uma versão muito próxima das que foram recolhidas em Portugal e no Brasil. Em Portugal, são muitas as versões: Teófilo Braga (A Paraboinha de Ouro) Ataíde Oliveira (O Príncipe-Pomba), Adolfo Coelho (O Príncipe das Palmas Verdes) etc. Por aqui, são conhecidas as versões de Silvio Romero (O Papagaio do Limo Verde), Câmara Cascudo (O Papagaio Real), Doralice Alcoforado (O Príncipe Papagaio), Altimar Pimentel (As Três Marias, O Papagaio Encantado, O Passarinho do Limo Verde). Há uma versão cearense, versada por Djanira Feitosa, que incluí nos Contos e Lendas da Terra do Sol na forma original (prosificada).

Na literatura de cordel, a versão mais antiga parecer ser O Príncipe Encantado ou O Passarinho Verdelinho, de Gregório das Neves, publicado pela Tipografia Popular em 1911. As versões mais recentes são O Príncipe do Reino do Limo Verde, de minha autoria, que funde o conto de Sílvio Romero a um de recolha própria (O Calanguinho Infante) e O Príncipe de Acelóis, de Rouxinol do Rinaré, que se baseou na versão de Câmara Cascudo.

Para saber mais:

CARDIGOS, Isabel; CORREIA, Paulo. Catálogo dos Contos Tradicionais Portugueses (com as versões análogas dos países lusófonos). CEAO da Universidade do Algarve / Edições Afrontamento: Portugal, 2015.

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