quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Tributo a Miguel Batista



Presto, neste espaço, uma homenagem a meu querido amigo e exemplo de vida Miguel Batista da Silva, um dos narradores do nosso livro Contos e fábulas do Brasil, que nos deixou na última quarta-feira de julho. Reproduzo abaixo o conto O cavalo encantado, do qual ele foi fonte e ponte.

Um fazendeiro tinha a seu serviço um menino, que era encantado e aprendeu a virar num cavalo desde que lhe tirassem os arreios. Assim, o fazendeiro sempre “negociava” o cavalo com outros mas ficava com os arreios, pois, pouco tempo depois, o cavalo voltava a ser gente e tomava o rumo de casa. Deste modo, o fazendeiro ganhou muito dinheiro e achou que não precisava mais do cavalo. Por azar, o Diabo em pessoa apareceu para comprar o cavalo e fez uma oferta tão boa que seduziu o fazendeiro:

— Só levo o cavalo com os arreios.

O fazendeiro pensou, pensou e, finalmente, aceitou, pois era muito dinheiro e não podia deixar passar a oportunidade. E lá se foi o Diabo com o cavalo arreado. Depois de muito andarem, pararam numa fazenda para o pernoite. O Diabo então ordenou a um moleque que fosse a um rio dar água ao cavalo, mas, por nada deste mundo, lhe tirasse os arreios, pois ele tinha de beber com a bride. Quando chegaram ao leito do rio, o cavalo pediu ao menino:

— Ô menino, tire essa bride!

— Não posso.

Mas o cavalo não conseguia beber a água e tanto implorou, tanto implorou, que o moleque tirou-lhe a bride e a sela. No mesmo instante, o cavalo falou:

— Quem me dera uma piaba! — e virou uma piaba e desapareceu no riacho.

O moleque voltou chorando, e o Diabo perguntou-lhe onde estava o cavalo.

— Transformou-se numa piaba e sumiu no rio.

— Me mostra onde foi..

O menino apontou o lugar e o Diabo disse:

— Quem me dera um tubarão pr’eu pegar a piaba! – e sumiu no rio até que chegou perto da piaba, que disse:

— Quem me dera uma pombinha! — e virou uma pombinha e ganhou o céu. O perseguidor então disse:

— Quem me dera um gavião! — e virado num gavião se botou atrás da pomba. Quando já a estava alcançando, a pomba viu uma moça na janela de um sobrado e disse:

— Quem me dera uma joia pra entrar no dedo daquela moça...

Aí o perseguidor disse:

— Quem me dera um homem pra tomar a joia daquela moça na marra. — e começou a puxar a joia naquele “dá!”, “não dou!”, “dá!”, “não dou!”, até que a própria joia falou:

— Quem me dera uma quarta de milho! — e a moça sacudiu a joia no chão.

O homem então disse:

— Quem me dera um galo! — e começou a catar caroço por caroço, e só não comeu tudo porque a moça escondeu o último debaixo do pé. Aí, o caroço falou:

— Quem me dera uma raposa! — e pulou no pescoço do galo, torceu e passou ele no papo, acabando, assim, a perseguição.


 Miguel Batista da Silva, Serra do Ramalho, Bahia.

3 comentários:

  1. Bonita homenagem. O teu livro, aliás, já é a melhor homenagem que se pode prestar a um contador de histórias: fazer com que ele as continue contando, para sempre.

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  2. Grande tio Miguel, jamais será esquecido, pois permanece vivo em nossas memórias.

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  3. Vô Miguel, faz uma falta o senhor aqui na terra. Enquanto seu nome for lembrado sempre vai ter um pedaço do senhor vivo conosco

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