Presto, neste espaço, uma homenagem a meu querido amigo e exemplo de vida Miguel Batista da Silva, um dos narradores do nosso livro Contos e fábulas do Brasil, que nos deixou na última quarta-feira de julho. Reproduzo abaixo o conto O cavalo encantado, do qual ele foi fonte e ponte.
Um fazendeiro
tinha a seu serviço um menino, que era encantado e aprendeu a virar num cavalo
desde que lhe tirassem os arreios. Assim, o fazendeiro sempre “negociava” o
cavalo com outros mas ficava com os arreios, pois, pouco tempo depois, o cavalo
voltava a ser gente e tomava o rumo de casa. Deste modo, o fazendeiro ganhou
muito dinheiro e achou que não precisava mais do cavalo. Por azar, o Diabo em
pessoa apareceu para comprar o cavalo e fez uma oferta tão boa que seduziu o
fazendeiro:
— Só levo o
cavalo com os arreios.
O fazendeiro
pensou, pensou e, finalmente, aceitou, pois era muito dinheiro e não podia
deixar passar a oportunidade. E lá se foi o Diabo com o cavalo arreado. Depois
de muito andarem, pararam numa fazenda para o pernoite. O Diabo então ordenou a
um moleque que fosse a um rio dar água ao cavalo, mas, por nada deste mundo,
lhe tirasse os arreios, pois ele tinha de beber com a bride. Quando
chegaram ao leito do rio, o cavalo pediu ao menino:
— Ô menino,
tire essa bride!
— Não posso.
Mas o cavalo
não conseguia beber a água e tanto implorou, tanto implorou, que o moleque
tirou-lhe a bride e a sela. No mesmo instante, o cavalo falou:
— Quem me dera
uma piaba! — e virou uma piaba e desapareceu no riacho.
O moleque
voltou chorando, e o Diabo perguntou-lhe onde estava o cavalo.
— Transformou-se
numa piaba e sumiu no rio.
— Me mostra
onde foi..
O menino
apontou o lugar e o Diabo disse:
— Quem me dera
um tubarão pr’eu pegar a piaba! – e sumiu no rio até que chegou perto da piaba,
que disse:
— Quem me dera
uma pombinha! — e virou uma pombinha e ganhou o céu. O perseguidor então disse:
— Quem me dera
um gavião! — e virado num gavião se botou atrás da pomba. Quando já a estava
alcançando, a pomba viu uma moça na janela de um sobrado e disse:
— Quem me dera
uma joia pra entrar no dedo daquela moça...
Aí o
perseguidor disse:
—
Quem me dera um homem pra tomar a joia daquela moça na marra. — e começou a
puxar a joia naquele “dá!”, “não dou!”, “dá!”, “não dou!”, até que a própria joia
falou:
— Quem me dera
uma quarta de milho! — e a moça sacudiu a joia no chão.
O homem então
disse:
— Quem me dera
um galo! — e começou a catar caroço por caroço, e só não comeu tudo porque a
moça escondeu o último debaixo do pé. Aí, o caroço falou:
— Quem me dera
uma raposa! — e pulou no pescoço do galo, torceu e passou ele no papo, acabando,
assim, a perseguição.
Miguel
Batista da Silva, Serra do Ramalho, Bahia.
Bonita homenagem. O teu livro, aliás, já é a melhor homenagem que se pode prestar a um contador de histórias: fazer com que ele as continue contando, para sempre.
ResponderExcluirGrande tio Miguel, jamais será esquecido, pois permanece vivo em nossas memórias.
ResponderExcluirVô Miguel, faz uma falta o senhor aqui na terra. Enquanto seu nome for lembrado sempre vai ter um pedaço do senhor vivo conosco
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