Capa do clássico folheto Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima (Tupunanquim) |
O nosso grupo de estudos na Casa
Tombada – Viagem de Retorno ao País da infância – caminha para o terceiro
encontro. Nas duas primeiras jornadas, abordamos facetas de contos maravilhosos
como “Belisfronte”, “O Mestre-Sala”, “O Reino da Água Azul”, “José e Maria” e “Guime
e Guimar”, todos de minha recolha (à exceção do terceiro, da faina de Djanira
Feitosa). No nosso terceiro encontro, A
Jornada do Anti-Herói: a sátira reparadora, porém, cederemos espaço à
subversão. Melhor dizendo, trataremos de um personagem compósito, presente na
tradição oral de todos os povos da Terra: o anti-herói. Ou seja, o herói às
avessas. É o Corvo, dos contos esquimós, Exu, nos mitos iorubas, Hermes, em
trajes de deus trapaceiro, na Grécia Antiga, e, de certo modo, Ulisses e
Sísifo.
Nos contos jocosos e contos do ogro
estúpido, ele aparece sob vários nomes, o maior comum deles, Pedro Malazarte
(ou Malasartes). Também pode ser chamado de João Grilo, Bertoldo, e também de
Camões (Camonge) ou Bocage (Bocais). Como os dois grandes poetas portugueses se
tornaram personagens de facécias, algumas de caráter fescenino, não se sabe
bem, mas certo é que, personagens incomuns, ainda em vida, reúnem em torno de
si um vasto anedotário e, à medida que o tempo passa, acontecimentos reais ou
inventados são incorporados à sua “biografia”, num processo natural de convergência.
Till Eulenspiegel na Alemanha, Jean Machepied na França, Pedro de Urdemales na
Espanha, Maestro Grillo na Itália, Nasrudim na Turquia, o personagem que vinga,
por meio da astúcia, as injúrias e injustiças contra os desfavorecidos, tem mil
e um nomes e número equivalente de truques. O contraponto feminino do trickster
é a Maria Sabida, Maria Sutil [The Clever Peasant Girl, ATU 875], mais cerebral e menos
cruel, respondendo com sagacidade ao despotismo real (que é, também, o
despotismo masculino). É, portanto, uma legítima irmã de Sherazade.
Nasrudin (miniatura do séc. XVII) |
Por se tratarem, muitos deles, de
personagens também da literatura de cordel, pela primeira vez em nosso grupo
recorreremos aos folhetos de feira e falaremos, ainda que de raspão, do Auto da Compadecida, a premiada peça de
Ariano Suassuna, cujos alicerces estão fincados na poesia popular. Por isso,
mostraremos trechos dos cordéis O Cavalo
que Defecava Dinheiro, O Dinheiro
e O Castigo da Soberba, os dois
primeiros de Leandro Gomes de Barros, e o último atribuído a Silvino Pirauá de
Lima.
Boa jornada!
P. S.: O próximo encontro ocorrerá dia 18 de maio, das 10h às 13h, na Casa Tombada (Rua Ministro Godoy, 109, Perdizes).
Nenhum comentário:
Postar um comentário