Clara Haddad anuncia que está no Brasil, onde ministrará cursos e oficinas e apresentará seu novo livro A Narradora de Histórias e outros contos de encantar.
Tive a a sorte de ler, antes de o livro ser publicado. Isto se deveu ao convite honroso, que me fez a Clara, para escrever o prefácio da obra, do qual adianto um trechinho.
As histórias e a narradora
O conto popular precisa ser “velho na
memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento e
persistente nas memórias orais”, ensinou-nos mestre Luís da Câmara Cascudo, no
prefácio de seu livro dedicado a este gênero da oralidade, Contos tradicionais do Brasil. Boa parte dos contos que ouvimos vem
da infância da humanidade, sendo alguns contemporâneos dos povos que se
estabeleceram às margens do Nilo ou do Eufrates, na aurora das civilizações
egípcia e mesopotâmica. Os contos refletem mitos e ritos de outrora, recordam
velhos e abandonados hábitos, rememoram sistemas jurídicos e costumes
desaparecidos nas brumas de um tempo que longe vai. Alguns destes contos
velhos, correntes nas águas da oralidade de vários povos e lugares, foram
selecionados para compor esta antologia por Clara Haddad, a Sherazade
brasileira que viaja o mundo nas asas da tradição, refazendo, muitas vezes, os
caminhos das histórias de seu vasto repertório.
A Narradora de Histórias e outros contos
de encantar reúne oito contos tradicionais, divulgados em países
como Líbano, Índia, Espanha, Portugal, França e, claro, Brasil. A origem dessas
histórias é imprecisa, mas versões e variantes podem ser encontradas numa vasta
área que vai do Japão à Irlanda, irradiando-se pelo continente americano. A autora, que entende que a matéria
dos contos é tão sutil quanto a dos sonhos, inicia a sua jornada com uma
história exemplar: O sonhador. Conto que pertence à seção de “Acasos felizes”,
do catálogo internacional ATU, é a História dos dois que sonharam do
livro das Mil e Uma Noites, que Jorge
Luís Borges incluiu em seu Libro de
sueños, e na qual Paulo Coelho se inspirou para escrever o best-seller O alquimista. Publiquei uma versão, O tesouro do matuto, que me foi contada
pelo poeta Arievaldo Viana, no livro Contos
folclóricos brasileiros. O cenário é bem brasileiro, o interior do Piauí,
onde um homem pobre, que possui apenas um casebre e um bode velho que pinoteava
sobre um lajedo, larga-se pelo mundo em busca de um tesouro com o qual sonhara
e que estaria na boca de um sapateiro. Um remendão, de uma cidade distante,
sabendo de sua demanda, lhe dirá que também sonhou com um tesouro, mas este
estava enterrado sob um lajedo no qual um bode velho pinoteava. O homem retorna
e encontra o tesouro debaixo do dito lajedo.
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