quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Um mestre, muitas histórias



José Alexandrino de Oliveira (seu Zé) nasceu na comunidade de Riachão, em Carinhanha, município baiano lindeiro a Minas Gerais. Trabalha de alugado, mas planta também no terreno em que construiu sua casa no bairro da Bela Vista, em Serra do Ramalho. Gosta de contar histórias e anedotas, não importa a ocasião. Está sempre sorrindo e de bem com a vida. De todos os narradores tradicionais que conheci, é o de repertório mais amplo e eclético. De contos de animais a histórias de exemplo, de enredos novelescos a narrativas de cunho maravilhoso, passa horas esquecidas exercitando sua memória privilegiada.

No livro Vozes da Tradição (IMEPH), reproduzo sete contos narrados por ele. Imaginava serem os únicos de que se lembrava, mas, em nossa última passagem pela Bahia, descobrimos que seu Zé é uma fonte aparentemente inesgotável. Encontrei-o por acaso, quando realizava um serviço para a minha mãe. Ajudei-o a levar uns vasos de planta para o fundo da casa e, enquanto trabalhava, ele emendava uma história atrás da outra. Em duas outras oportunidades, Lucélia e eu fomos visitá-lo em sua casa, à noite, a melhor hora para se contar histórias. E foram mais de 30 além daquelas que ele lamentou lembrar apenas umas partes (Maria Borralheira e a história da Filha do Diabo).

Das muitas que nos narrou, destaco as versões de “O homem forte e seus companheiros” (ATU 301B), A Morte madrinha (ATU 332), Plácidas ou "O homem que sofreu quando era novo" (ATU 938), dos contos jocosos do tolo que serra o galho onde se encontra sentado (ATU 1240), do “Urubu adivinhão (ATU 1535, parte III) e a história do afortunado homem da vaquinha (ATU 1415), cordelizada por Francisco Sales Areda, e muitas, muitas outras.

Enfim, seu Zé é um mestre que merece ser escutado.

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